Iniciação à leitura
Criança pode adorar livros e histórias, desde que os adultos não
atrapalhem. E como temos atrapalhado o que poderia ser uma verdadeira paixão
pelos livros! Ler é bom, precisamos formar leitores, a vida sem a
literatura não teria graça, temos de incentivar o hábito da leitura nas
crianças e nos jovens etc. Afirmações como essas brotam da boca de pais e de
professores assim, sem mais nem menos.
Temos gosto em pegar frases e repeti-las muito, até que elas percam seu
sentido, não é verdade? Assim aconteceu com essas e outras afirmações que
tratam da importância da leitura na vida dos mais novos: tanto fizemos que
conseguimos esvaziar o que elas dizem.
Primeiramente quero falar dessa expressão horrorosa: “Criar o hábito da
leitura”. Ah! Vamos aproveitar e lembrar outra semelhante: “Criar hábito de
estudo”.
Nós queremos que as crianças tenham prazer com livros e histórias ou
queremos que adquiram um hábito?
Leitura, tanto quanto estudo, não deve ser tratada assim. Um hábito se
instala e pouco -quase nada- acrescenta à vida de uma pessoa.
Já o amor, o prazer, o gosto verdadeiro pela leitura ou pelo estudo são
capazes de mudar a nossa vida. Ler e estudar devem ser uma escolha, uma
vontade, uma busca por algo que não se tem.
O bebê já pode ser introduzido ao mundo dos livros e da leitura. Pais e
professores podem começar contando histórias e oferecendo livros para que ele
manuseie, explore, se entretenha com esse objeto. E não precisa ser livro de
plástico, que produza som ou coisa semelhante. Livro de verdade mesmo, de
papel, com figuras bonitas e letras, encanta o bebê.
O escritor Ilan Brenman, apaixonado pela literatura, afirma que um
requisito importante para iniciar as crianças no universo da leitura é a beleza
do livro. Sim: uma capa bonita já chama a atenção da criança, tanto quanto as
ilustrações. Aliás, muitos livros sem palavras são lidos pelas crianças com a
maior atenção.
Ainda falando de bebês e crianças muito pequenas: o papel do livro, suas
diferentes texturas, odores e cores também já são alvo da curiosidade delas e
objeto de pesquisa concentrada.
E o que dizer de livros de histórias que crianças já conhecem e adoram
-”Peter Pan” e “Alice no País das Maravilhas”, por exemplo- com adaptação em
“pop-up”? Imperdíveis, já que encantam crianças e adultos.
Não devemos menosprezar as crianças quando o assunto é história: elas
não gostam apenas daquelas que foram escritas para as crianças. Toda a
literatura, principalmente a clássica, pode ser oferecida, sem censura.
Tornar a leitura um ato obrigatório é uma dessas manias que nós adotamos
com as crianças que prejudicam a descoberta que elas poderiam fazer do prazer
da leitura. Tudo bem: isso pode ser feito como tarefa escolar, mas depois, bem
depois de oferecer a elas a oportunidade de ler por gosto e não por obrigação,
no fim do ensino fundamental, por exemplo.
Finalmente: a literatura não deve servir para moralizar a vida dos mais
novos.
Nada de contar histórias que só servem para tentar “ensinar” a criança a
ter bons modos, escovar os dentes etc. A educação moral e para a higiene, por
exemplo, deve usar outros recursos.
Que tal um programa com seu filho? Visitar uma biblioteca ou uma
livraria para procurar um livro bonito e gostoso de ler e de ouvir?
Certamente você e seus filhos irão aprender muito sobre a vida e sobre
vocês mesmos nesse programa. E boa viagem!
Fonte: jornal Folha de S.Paulo (por Rosely Sayão)
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